quarta-feira, 27 de abril de 2011

ARTIGO - Burocracia e corrupção

Se eu encontrasse hoje o Zé Pastinha, certamente ouviria dele uma daquelas deliciosas estórias que ele gostava de contar enquanto, todo suado, parava para um rápido descanso em sua faina de office-boy. Como esta que transcrevo como ele relatava:

__        Estou decepcionado. Como cidadão e como usuário de serviços públicos. Depois de voltar pela décima vez ao balcão duma repartição pública, levando e trazendo uma sacola de documentos que me eram pedidos aos poucos, levei uma bronca do funcionário: __ “”  pensando o quê? Que eu sou INCORRUPTÍVEL?

            Ah!  Como eu sou uma besta !  Achei que devia mesmo levar as certidões disso e daquilo, positivas umas e negativas outras;  declarações de conhecidos;  declarações de desconhecidos, umas com firmas reconhecidas e outras não; fotocópias autenticadas (algumas e outras não, só não me explicaram quais deveriam ser assim e quais deveriam ser “assadas”). Passei  quinze dias no cumprimento de minha obrigação cívica de atendimento às autoridades, ouvindo com paciência necessária os vários “não é aqui. É ali (ou lá)”, “não é comigo, é com fulano” e “volte amanhã que o responsável não veio trabalhar hoje”. Assinei um monte de folhas, impressos, formulários, requerimentos, declarações. Paguei  taxas, guias, emolumentos, impostos, contribuições, custas, etc. Apresentei projeto. Justifiquei a necessidade. Pedi urgência. Reclamei da demora. Paguei suco, pastel, refrigerante, coxinha, pedaço de bolo, pamonha, picolé e os cambais pra uns e outros (nunca pensei que servidor público comesse tanto em serviço, acho que é por isso que as capas dos documentos são plastificadas). E quando pensei que tudo estava certinho, que ia sair o documento que precisava, ao invés de um sorriso e do papel esperado, recebi a admoestação oficial :  “” pensando que sou incorruptível?
           Eu não queria magoar ninguém. Não queria irritar ninguém. Só queria acreditar que corrupção era coisa só da televisão, dos rádios e dos jornais.
             Bem feito pra mim. Bem que me falaram dos anões do orçamento;  de deputados e “mensalão” ; do TRT de São Paulo;  das propinas nos correios;  de ATPF’s ;  do cara que mudou de cara no passado e da casa civil ontem.  Bem que me falaram do cara que perdeu um dedo de tanto coçar o saco (e encher o dos que trabalham). Mas eu achei que isso era coisa de cidade grande. De capital. Pras bandas das praias. Que nunca ia ver ou sentir. E agora, onde enfio toda essa papelada?
         ___   nn rrbb.
            ___      No meu não. No nosso. Somos ou não somos todos nós parceiros nesta desventura burocrática, estatizante, desmoralizante, militante, atravancadora, cara e individualmente enriquecedora e ao mesmo tempo tão republicana?.
             Não sei se por ingenuidade ou por conhecer a falácia do Zé Pastinha, fico pensando se tais coisas aconteceram mesmo com ele.
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Gilmar da Cruz e Sousa é advogado militante em Juína – e-mail gcruz@juina-fox.com.br, e escreve especialmente para o JNMT

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